segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Distopias utópicas

Não sei se posso dizer tratar-se de um gênero literário, mas adoro distopias. Alguns podem dizer que são ficções científicas, mas o substantivo contrário de utopia encaixa melhor no meu gosto, já que finais felizes não aparecem no contexto. Entre distopias prediletas, estão dois clichês máximos de crítica contemporânea disfarçada de exercícios de futurologia: “Admirável Mundo Novo” e “1984”.

Uma semelhança entre os dois é que os personagens principais de ambos os livros morrem no final. Não reclamem de spoilers, se você não leu nenhum deles ainda perdeu uma grande chance de entender como funciona o mundo e a futilidade que nos cerca, e como somos marionetes nas mãos de mestres de bonecos que nem ao menos conhecemos os rostos. Tergiverso, perdão.

Como dizia, ambos morrem, porém, de formas diferentes. O herói do tomo de Huxley se suicida, depois de virar objeto de culto dos “desenvolvidos”, por mostrar contradições que haviam sumido em um mundo asséptico, em que o prazer limpo e o trabalho sem questionamentos ou perspectivas afligiam somente uns poucos. Já o personagem principal do livro de Orwell leva um tiro, não sem antes ter o cérebro lavado e se tornar mais um apaixonado pelo bigode esquisito do Grande Irmão.

O curioso é que os dois morrem como párias, diferentes em um mundo de cidadão iguais em sua apatia e morosidade, e chegam a ser discriminados por questionarem como as coisas são. Essa longa introdução é apenas para verificar que algo semelhante ocorre no mundo real, onde aceitar e se enturmar entre o que você critica é a forma de ser aceito e sobreviver. E não falo de adolescentes que se vestem e agem para serem aceitos, e sim, do mundo adulto, onde as regras são tão ou mais estapafúrdias do que numa tribo urbana repleta de espinhentos.

Óbvio que as regras são feitas para facilitar, mas é quase impossível alguém ter uma voz no meio de hierarquias, conchavos e “as coisas são assim mesmo” que inundam justificativas vazias em empregos e relações. Vivemos a época das soluções rápidas e produtividade veloz, mas perdemos horas no trânsito e as jornadas de trabalho parecem intermináveis, já que é preciso estudar alucinadamente para não ficar para trás.

A solução? Não sei, caso a tivesse, não teria escrito esse texto, e nem acharia que no frigir dos ovos as soluções encontradas pelos autores se aproximam bastante de utopias.

2 comentários:

mr.Poneis disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
mr.Poneis disse...

Distopias são de fato uma literatura edificante, mas pessoalmente não integram o meu gênero favorito de ficção.

Não sei você, mas vivendo neste mundo de adultos tenho a impressão de que toda vez que olho 'lá para fora' me deparo com uma distopia. De fato, se utopia define um mundo perfeito e idealizado, distopia, seu oposto não deveria significar o mundo real?

Também tergiverso, o pai dos burros explica o 'dis-' no sentido e ruim e não no de oposto...

conjecturações demais

até mais ver
mr.poneis

Ps.: curiosa opção de sabor para um geladinho essa sua...